terça-feira, 12 de julho de 2016

Jennifer escreve texto para o Huffington Post


Para Registro

Deixe-me começar por dizer que desmentir fofocas é algo que eu nunca fiz. Eu não gosto de dar energia ao negócio de mentiras, mas eu queria participar de uma conversa maior que começou e precisa continuar. Já que eu não estou em redes sociais, eu decidi colocar meus pensamentos aqui em escrito.

Para registro, eu não estou grávida. O que eu estou é de saco cheio. Eu estou de saco cheio desse esporte de escrutínio e body-shaming que acontece diariamente debaixo do disfarce de "jornalismo", da "quinta emenda" e "novidades das celebridades."

Todos os dias meu marido e eu somos perseguidos por dúzias de fotógrafos agressivos plantados na porta da nossa casa que usam artifícios chocantes para obter qualquer tipo de foto, mesmo que isso signifique nos colocar em perigo ou os pedestres azarados que por ventura estejam por perto. Mas deixando de lado o aspecto público da segurança, eu quero focar na figura maior do que esse ritual insano representa pra todos nós.

Se eu sou algum tipo de símbolo para algumas pessoas por aí, então certamente sou um exemplo das lentes através das quais nós, como uma sociedade, vemos as nossas mães, filhas, irmãs, esposas, amigas mulheres e colegas. A objetificação e escrutínio que colocamos as mulheres é absurdo e perturbador. A forma como eu sou retratada pela mídia é uma simples reflexão de como nos vemos e retratamos as mulheres em geral, sendo medidas sob algum padrão deformado de beleza. Algumas vezes os padrões culturais só precisam de uma perspectiva diferente para que possamos vê-los pelo que realmente são - uma aceitação coletiva... um acordo subconsciente. Nós estamos no controle dos nossos acordos. Garotinhas em todos os lugares estão absorvendo nosso "acordo", passivamente ou de outra maneira. E isso começa cedo. A mensagem que as garotas não são bonitas a menos que sejam incrivelmente magras, que elas não merecem nossa atenção a menos que pareçam uma modelo ou uma atriz na capa de uma revista é algo que todos nós somos culpados. Esse condicionamento é algo que as meninas carregam para sua vida adulta. Nós usamos as "notícias" das celebridades para perpetuar essa visão desumanizada de mulheres, focada somente na aparência física, que os tablóides transformam em um evento de esporte de especulação. Ela está grávida? Ela está comendo demais? Ela se deixou pra lá? O casamento dela está com problemas porque a câmera detectou algum tipo de "imperfeição"?

Eu costumava dizer para mim mesma que os tablóides eram como revistinhas em quadrinhos, para não se levar a sério, como uma novela para as pessoas acompanharem quando estivessem precisando de distração. Mas não posso mais dizer isso porque a realidade é que a perseguição e a objetificação que eu tenho experienciado em primeira mão, há décadas já, reflete a forma deturpada que calculamos o valor de uma mulher.

Esse último mês em particular me iluminou em relação a quanto nós definimos o valor das mulheres baseados no seu status conjugal e maternal. Só a quantidade de recursos que estão sendo gastos agora pela imprensa para simplesmente descobrir se estou grávida ou não (pela bilionésima vez... mas quem está contando) mostra a perpetuação dessa noção de que as mulheres são de alguma forma incompletas, fracassadas ou infelizes se não estão casadas e tem filhos. Nesse último entediante círculo de notícias sobre minha vida pessoal tem havido tiroteios, incêndios, decisões importantes da suprema corte, uma eleição importante, e um número gigante de notícias mais dignas de destaque que esses "jornalistas" podiam dedicar seus recursos.

É aqui que eu falo nesse tópico: nós somos completas com ou sem um homem, com ou sem uma criança. Nós decidimos por nós mesmas o que é bonito quando o assunto é nosso corpo. Essa decisão é nossa e só nossa. Vamos tomar essa decisão por nós mesmas e pelas meninas nesse mundo que nos olham como exemplos. Vamos tomar essa decisão conscientemente, fora do barulho dos tablóides. Nós não precisamos ser esposas ou mães para sermos completas. Nós é que determinamos nosso "felizes para sempre" por nós mesmas.

Eu me cansei de fazer parte dessa narrativa. Sim, talvez eu me torne mãe um dia, e já que estou despejando tudo, se eu me tornar, eu vou ser a primeira a deixar vocês saberem. Mas eu não estou perseguindo a maternidade porque me sinto incompleta em algum aspecto, como nossa cultura de fofocas nos guia a acreditar. Eu lamento que me façam sentir "menos que" porque meu corpo está mudando e/ou comi um hamburguer no almoço e fui fotografada de um ângulo estranho e portanto "condenada" a uma das duas: "grávida" ou "gorda." Isso sem mencionar a estranheza dolorosa que vem de ser parabenizada por amigos, colegas de trabalho e até mesmo estranhos pela gravidez ficcional (com frequência uma dúzia de vezes em um único dia).

De anos de experiência eu aprendi que os costumes dos tablóides, mesmo perigosos, não vão mudar, pelo menos não por enquanto. O que pode mudar é a nossa consciência e reação às mensagens tóxicas enterradas nessas histórias aparentemente inofensivas que nos são servidas como verdade absoluta e moldam nossas ideias de quem nós somos. Nós decidimos o quanto nós compramos do que nos está sendo servido, e talvez um dia os tablóides serão forçados a ver o mundo através de lentes diferentes e mais humanas porque as pessoas simplesmente pararam de comprar tanta besteira.


Huffington Post

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